Mor, a intelectual

(Fotografia - Domingas de Sottomayor, brevemente em exibição/ Texto - Mor/

reservados todos os direitos de autor)

Porque me deixaste Matilde?

Partiste sem aviso numa tarde ainda quente de Outubro... Árvores amarelecidas por um verão que não deu tréguas, tempo seco e eu louco de tristeza...

No dia do casamento combinámos que nenhum de nós deixaria o outro mas tu, Matilde, faltaste-me!

Como estavas linda nesse dia, vestido branco, pérolas nas orelhas, pele radiante, sorriso rasgado e um brilho de felicidade no olhar. Toda tu resplandecente para mim Matilde.

O casamento, disseste tu, não é só feito de amor pois o amor pode não durar a vida eterna... Como estavas enganada mas tão certa Matilde!

Com o passar das décadas aprendi que o casamento não só é amor mas também amizade, respeito, compreensão, magia, partilha e muito preserverança... Não basta estar com o outro é preciso querer estar. E eu queria-te, sempre te quis.

Com o passar de anos fomos ficando velhos, cabelos brancos, rugas, mais esquecidos e menos vigorosos, talvez lentos mas para mim continuaste igual ao dia em que cruzamos o olhar na famosa festa de reveillon onde entrelaçamos os nossos destinos.

Falo contigo e penso em ti durante o dia, oiço-te a andar pela casa a fazer as tuas tarefas enquanto cantas baixinho, por vezes vejo-te ao de longe nas ruas. Mesmo quando acompanhado sinto-me tão só.

Todas as noites peço que me levem para perto de ti, minha Matilde. Não me julgues mal. Bem sei que os nossos filhos precisam de mim, mas o meu coração sem ti parou e só me resta agora partir para me juntar outra vez a ti...