quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cascais da minha meninice

Este vídeo promocional trouxe-me doces recordações. Os verões da minha meninice e adolescência foram todos passados em Cascais (bem vos digo que sou uma bolha genuína).

Férias sem fim, passeios de bicicleta, cheiro a mar, guincho, paredão, as primeiras saídas, o deck, o bauhaus e o louvre, amigos para a vida, praia de manhã à noite, mergulhos, creme de cenoura, bolas de Berlim, jogging, piqueniques, Biscaia, Banzão, cinema e santini... Espero dar aos meus filhos uma infância tão despreocupada e feliz como a que os meus Pais me deram. A Mãe bolha era de facto imparável a ocupar-nos os dias, uma companheirona!

E por falar em amizades que perduram, hoje apetecia-me fechar os olhos e estar ao lado de uma das minhas grandes amigas de sempre, a minha querida D. Uns minutos ao seu lado, mesmo em silêncio, só para lhe fazer companhia neste terrível momento. Minha querida, estou a pensar em ti. Logo ligo-te para fingirmos que não há qualquer distância a separar-nos, estamos lado a lado.

Para os outros, até breve!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Hoje acordei piegas.
O dia está cinzento, frio, pesado, a cheirar tristeza.
Não que tenha motivos para estar piegas, não tenho. Há dias em que acordamos assim.
Depois ouvi a voz do meu pai, falei com o meu irmão, demos tantas gargalhadas que a pieguice se escapuliu.
Sexta-feira, finalmente, descansem, durmam, gozem!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Final feliz

Lembram-se do nosso Hachi? O cão vadio mais patusco e simpático do Oriente, alimentado dedicada e diariamente pelo Bolhão com comida feita pela je?

Há cerca de 6 meses conhecemos um senhor que também lhe dava comida, explicou-nos que o queria adoptar. O Bolhão também já tinha pensado longamente nesse assunto mas como estávamos à espera de bebé era impossível termos a veleidade de adoptarmos um cão vadio nessa fase do campeonato. Com pena mas não podia ser...

Quando voltamos das nossas férias do Natal o Hachi tinha desaparecido. O Bolhão ficou muito triste. Anteontem estava a voltar para casa quando vejo o nosso Hachi lavado e penteadinho, de trela, todo pimpão a passear pela zona onde no passado tinha vivido. Reconheceu-me, saltitante, pareceu-me feliz.

Gosta de estar sentado no sofá a ver televisão, diz o novo dono! Este fim-de-semana vamos visita-lo.

Até breve!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

S. Valentim especial!

A partir de hoje este dia tem um sabor diferente para a minha família... Nasceu a minha primeira sobrinha de sangue!
Penso que a querida I. não vai jantar muitas vezes fora com admiradores/ namorados ;-))) no dia de S. Valentim.
Muitas felicidades para a I. e pais, um beijo muito especial para o meu irmão.
Estou babada, é linda!

E porque hoje é dia dos namorados...

Mais nada!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Para embalar II


Kreisler-Liebesleid
Acordamos clássicas!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Coelho, primeiras impressões

Fui aos casinos, gostei!
Experimentei um restaurante, o Copa, está aprovadíssimo.
Almocei no Porto Fino "pasta, pizza e basta" e adorei a esplanda... Ideal para os dias de sol de Inverno.
Saí à noite (que maluca).
Fui ao Playboy Club. Está exactamente igual ao bar "the view" (o antigo) com umas coelhas aos saltos. Podiam ter aproveitado e mudado a decoração que continua a fazer lembrar uma bar do "faroeste" americano.
E por falar em esplanadas com sol de Inverno, as saudades que tenho de uma imperial...
Até breve!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fidalgos, queques e bétinhos - Miguel Esteves Cardoso

E para inaugurar o ano do coelho, nada melhor do que um texto do fabuloso MEC (onde andará?).
Bom fim-de-semana! Por aqui ainda largamos panchões.

"Os Portugueses têm algo de figadal contra todos os que tenham algo de fidalgal. Como as crianças, confundem muito a fidalguia, que é uma simples condição social, com a aristocracia, que é um sistema político em que o poder pertence aos nobres. E, no entanto, como diria Chesterton, não há mérito automático em ser fidalgo, nem vergonha em pertencer decididamente (como eu) à ralé.

Em Portugal a nossa civilização deve muito a duas classes minoritárias. Ambas são gente simples, com posses reduzidas e educação informal. Refiro-me, obviamente, à plebe e à nobreza. O pretensiosismo dominante, seja proletário ou possidónio, seja triunfalista ou disfarçado, encontra-se nas classes restantes, que constituem a grande maioria da população. Mas um pastor ou um pescador é tão senhor como um fidalgo. Como ele, vê o mundo de uma maneira antiga, em que cada coisa tem o seu lugar, o seu sentido e o seu valor. O pior é o operariado, a pequena, média e alta burguesia: enfim, quase toda a gente. É esta gente que se preocupa com a classe a que pertence. Enquanto o pastor e ovisconde se ocupam, os outros preocupam-se. Os primeiros não querem ser o que não são. Os outros adorariam. Os primeiros aceitam o que são, sem vaidade. Os outros têm sempre um bocadinho de vergonha e por isso disfarçam, parecendo vaidosos.

Quem é fidalgo e quem é que quer ser?

Em Portugal existem três classes distintas. Há a classe dos fidalgos – os meninos “bem”. E depois há duas classes falsamente afidalgadas. Há os meninos “queques”, filhos de pais “queques” mas com avós que não. E há os “betinhos”, filhos de pais que, simplesmente, não.

O “menino bem” é aquele que não sabe muito bem em que século começou a fortuna da família. Geralmente é pobre, com a consolação irritante do passado rico. É muito bem-educado e jamais se lembraria de lembrar aos outros que é “bem”. O “queque” sabe perfeitamente que foi o avô ou o bisavô que abriu a fábrica ou a loja que enriqueceu a família. Geralmente é bastante rico. Embora tenha frequentado os colégios correctos, tem sempre um enorme complexo de inferioridade em relação aos “meninos bem”, o que o leva a fazer-se mais do que é. De bom grado trocaria grande parte da sua fortuna pela antiguidade e pelo prestígio de um bom título.

Finalmente, o “betinho” é aquele cujo pai nasceu pobre, indesmentivelmente operário. O betinho procura dar-se, em vão, com queques e meninos bem, mas a sua educação é formal e institucional, não familiar. É o mais rico de todos, mas é também o mais envergonhado. O betinho por excelência é aquele que não suporta a vergonha de um pai nascido entre o povaréu. Evita apresentá-lo aos amigos. Tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho.


Tanto o queque como o betinho são o resultado de self-made man, homens que se levantaram pelas próprias mãos, quantas vezes rudes e calejadas e tudo o mais. O menino bem, em contrapartida, nem sequer compreende o conceito de self-made man. Porque é que um homem se há-de “fazer a si próprio” quando houve sempre pessoal, criados e caseiros, para se ocupar dessas tarefas desagradáveis?

Distinguem-se em tudo. A falar, por exemplo. O menino bem usa todas as formas de tratamento, desde “a menina” – A menina vai levar o Jorge ou vai sozinha no Volvo? – até ao “Psst, tu que fumas”.


O queque, por ser menos seguro, trata toda a gente por “Você”, incluindo os criados e as crianças (o que não é correcto, mas parece). O betinho, a esse respeito, está em absoluta autogestão. Tenta tratar mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores (demasiado bem). No fundo é um labrego engraxado que julga sinal de aristocracia dizer os erres como se fossem guês.

O que caracteriza o menino bem é o seu total à vontade no mundo. Nunca se enerva, nunca hesita, nunca está muito preocupado. Haja ou não dinheiro. O menino bem dá-se bem com a pobreza e encara o sobe e desce da sorte com a naturalidade com que aceita a circulação do sangue pelas veias. Por isso dá-se bem com toda a gente. Nada tem a perder ou a ganhar.

Os queques não são assim. Pensam que nasceram para o brilho baço do privilégio. Vivem obcecados pelo dinheiro já que é o dinheiro que lhes permite comprar todos aqueles adereços (relógios Rolex, automóveis Porsche) que consideram indispensáveis ao seu estatuto social. Um menino bem, em contrapartida, nunca usa relógio – porque é que há-de querer saber as horas? O queque só se dá com pessoas “do seu meio”. Enquanto o menino bem tem aquele rapport feudal com caseiros, varinas e pedreiros, que constitui uma forma multissecular de intimidade, o queque aflige-se em “manter as distâncias” com esse gentião, precisamente por serem tão curtas.


O betinho é uma pilha de nervos. Ninguém o respeita. Dá-se quase exclusivamente com outros betinhos, do mesmo ramo de importação de electrodomésticos ou da construção civil. Não gostam de sair da sua zona. Os de Lisboa, por exemplo, só quando há uma emergência é que saem do Restelo. Ao contrário dos queques, evitam falar em dinheiro porque se sentem comprometidos. Esforçam-se mais por serem meninos bem do que os queques, que julgam já serem meninos bem. Andam sempre vestidos pelas lojas mais tradicionais (camisa aos quadradinhos, casaquinho de malha, jeans novinhos e mocassins pretos com correiazinha de prata ou berloques de cabedal), ao passo que os queques compram roupa mais moderna na boutique da moda. Escusado será dizer que os autênticos meninos bem andam sempre mal vestidos, com a camisola velha do pai e as calças coçadas do irmão mais velho. A única diferença é que as camisolas e as calças que têm em casa duram cem anos. Os avós já compram camisas a pensar que hão-de servir aos netos. Aliás, os fidalgos são sempre mais forretas que a escória.

No que toca aos hábitos alimentares, os meninos bem comem sempre em casa. Como as famílias são geralmente muito grandes (de resto, como sucede com o populacho), a comida é quase sempre do tipo rancho, ou sempre servida com muito puré de batata.

Os queques estão sempre a almoçar e a jantar fora, em grupos grandes com muitos rapazes e raparigas a exclamar: “Ai, já não há pachorra para o quiche lorraine!” Aqui se denunciam as suas verdadeiras origens sociais. Para um menino bem, comer fora é uma espécie de solução de emergência, quando não dá jeito comer em casa. Para um queque é um prazer.


Nas casas bem, a qualquer hora do dia, há sempre uma refeição a ser servida a um número altamente variável de crianças, primos, criadas, motoristas, tias, etc.



Nas casas queques as refeições variam conforme os convidados. Nas bem são sempre rigorosamente iguais. Os queques têm a mania dos restaurantes – conhecem-nos tão bem como os meninos bem conhecem (e odeiam) as cozinheiras. E os betinhos? Os betinhos tentam evitar as refeições o mais possível. Comem sozinhos em casa (os betinhos tendem a ser filhos únicos) ou levam betinhas a jantar. Porquê? Porque têm a paranóia de serem “descobertos” através dos modos de estar à mesa. Mas, na verdade, só são descobertos pelo seu excesso de boas maneiras. Um betinho à mesa está sempre “rijo”, atento, receoso de tirar uma azeitona por causa do terror de não saber lidar com o caroço. Os queques comportam-se como animais, espetando garfos nas mãos estendidas dos outros, soprando pela palhinha para fazer bolinhas no Sprite e atirando os caroços para martirizar o cocker spaniel. Quanto aos meninos bem, encaram as refeições como uma simples necessidade fisiológica. Comem e calam-se. Falam só para dizer “passa a manteiga” ou “Parece que houve uma revolução popular em Lisboa, passa a manteiga”.


Não são, portanto, os fidalgos que dão mau nome à fidalguia – são os queques e betinhos. Estes cultivam ridiculamente os “brasões” e as “quintas”, fingindo que não gostam de falar nisso. Em contrapartida, nas casas fidalgas, os filhos das criadas experimentam os lápis de cera nos retratos a óleo dos antepassados. E ninguém liga..."

“Os meus Problemas”, Miguel Esteves Cardoso