"Nem tudo o que se sabe sentir, se sabe dizer"

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;" Luís de Camões

O que é afinal o amor?

Já reparam que o comum dos mortais só escreve sobre o amor (cartas, diários, músicas, etc.) na fase que o precede (de enamoramento e alegria) e na fase pós termo (de desilusão e sofrimento)? Como dizia sabiamente Platão ao toque do amor, qualquer um é poeta.

Claro que na fase final só escreverá se for o lesado com a decisão final. Faço esta ressalva pois aquele que toma a decisão final de separação, em princípio, não escreve sobre amor que sente pelo outro pois esse sentimento já se terá desvanecido (está-se a marimbar). Pensem na quantidade de música ligeira sobre enamoramento e separação...

Para mim, o amor é composto por um turbilhão de sentimentos que podem ser variáveis e dependentes de cada pessoa e de cada relação entre duas pessoas. Se me abstrair dos restantes tipos de amor, i.e., o maternal, filial, fraternal e de amizade (pois esta também é uma forma de amor) e focar unicamente o amor entre o casal (em sentido amplo), posso concluir que é composto por ternura, paixão, confiança, partilha, amizade, admiração, respeito, intimidade, companheirismo e um enorme grau de comunicação...

Se todos estes ingredientes existirem nas doses certas pode dizer-se à cara-metade "se eu sei o que é o amor, é por sua causa" (Hermann Hesse), sem contudo encontrar uma definição universal...

Quem tem mesmo razão é Matias Aires, in "Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna".

”O amor não se pode definir; e talvez que esta seja a sua melhor definição. Sendo em nós limitado o modo de explicar, é infinito o modo de sentir; por isso nem tudo o que se sabe sentir, se sabe dizer: o gosto, e a dor, não se podem reduzir a palavras. O amor não só tem ocupado, e há-de ocupar o coração dos homens, mas também os seus discursos; porém por mais que a imaginação se esforce, tudo o que produzir a respeito do amor, são átomos. Os que amam não têm livre o espírito para dizerem o que sentem; e sempre acham que o que sentem é mais do que o que dizem; o mesmo amor entorpece a ideia e lhes serve de embaraço: os que não amam, mal podem discorrer sobre uma impressão, que ignoram; os que amaram são como a cinza fria, donde só se reconhece o efeito da chama, e não a sua natureza; ou também como o cometa, que depois de girar a esfera, sem deixar vestígio algum, desaparece.“

Aceitam-se opiniões... Até logo!