segunda-feira, 23 de março de 2015

O EI está a matar-nos



"O EI ESTÁ A MATAR-NOS

A indiferença é a nossa sentença

Nos finais de fevereiro, os jornais noticiaram que o soldado Mário Nunes, da Base Aérea de Beja, um jovem de Portalegre, de 21 anos, tinha desertado para ir combater o autodenominado Estado Islâmico. A notícia é um pouco confusa — já teria estado no Iraque com os curdos mas desta vez foi via Turquia juntar-se ao YPG na Síria para lutar contra os jiadistas. Desde então tenho aguardado que os jornais me contem algo mais. Mas nada. Para mim, ficou a ideia heroica de que há um Nunes, alentejano, que não suportou a banalização das atrocidades que temos visto nos últimos meses. Como nos tem acontecido.

As histórias de terror levadas a cabo pelos elementos do EI nas cidades capturadas no Iraque são de tal forma abjetas que não só nos começaram a deixar indiferentes como levaram a um segundo momento, que é o ceticismo. Será mesmo verdade que seres humanos possam fazer tais barbaridades? Basta ficarmos nas meninas iazidis, uma etnia/religião do norte do Iraque muito perseguida. Ora como é que tudo isto se consegue ‘compatibilizar’ com a uma leitura ‘literal’ do Alcorão que dizem seguir? Eis uma história denunciada a semana passada por um reputado investigador universitário da Universidade de Michigan: “Uma miúda foi casada e divorciada 15 vezes numa noite (para a divorciar, segundo a lei da sharia, basta repetir três vezes “eu te divorcio”), o que permite que a violação não quebre nenhum preceito religioso”. As meninas que sobrevivem a isto, e algumas voltam a ser vendidas aos pais, a maioria grávida, acabam por nunca conseguir regressar ao seio da família. Mas não queremos verdadeiramente saber. A realidade é que estamos fartos das tretas do Iraque. Em que o W. Bush se meteu e o Obama largou nas mãos dos xiitas do Maliki.

Mas há uns dias decidiram avançar com marretas e bulldozers contra museus e cidades milenares.

As imagens da destruição à marreta do Museu da Civilização de Mossul criaram horror e perplexidade. Os bulldozers sobre Nimrud e Hatra causaram espanto e consternação. Os explosivos em Nínive provocaram tristeza. O mais que aí venha será apenas mais do mesmo. Já aceitámos como inevitável o facto de algumas centenas de tipos estarem a destruir cidades da Mesopotâmia que sobreviveram a mais de 5000 anos de ataques. Leio nos comentários a muitas destas notícias que a resposta devia ser uma “bomba nuclear neles”.

Este modo de atuar cada vez mais radical impede-nos de querer sequer tentar perceber os porquês, como se ficássemos bloqueados perante tanto horror. Um professor de estudos islâmicos escrevia no “Wall Street Journal” que o vídeo de destruição do museu era à primeira vista apenas um gratuito ato de barbárie. Mas trata-se de um poderoso instrumento de propaganda. O que estavam ali a fazer era a reencenar um versículo do Alcorão, em que o profeta ordena a destruição de todos os ídolos de Meca. Acontece, relata o cronista, que é das recitações mais belas que alguma vez ouviu. Conseguiram arranjar alguém sublime para dar voz às imagens. Um clérigo top. “Se fechar os olhos é como se estivesse a ouvir Sir Patrick Stewart a recitar Próspero”.

O EI não é a Al-Qaeda. E não estamos nem interessados em tentar perceber o que os move (só conhecemos a propaganda) nem muito menos em saber como contê-los. Em pouco tempo já nos mudaram mais do que imaginamos. Se uma violação de uma menina for nos EUA é horrível. Se for pelo EI passamos à frente e não processamos mentalmente essa informação. Se um quadro for roubado em França a perda é incalculável. Se todos os vestígios da civilização assíria desaparecerem “é mais uma daqueles animais”. Ficámos indiferentes.

É por isso que penso no soldado de Beja. Mário Nunes: não sei se a tua história é como a contaram, se estás mesmo a combater o EI. Mas se estiveres, fica a saber que és o melhor de nós.
"


LUÍS PEDRO NUNES
 

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

O EI tem que ser dizimado.
Como?
Confesso que não sei.
Mas as atrocidades que estes bárbaros cometem não podem ser combatidas de outra forma - têm que desaparecer da face da Terra!

mor disse...

Tem mesmo que desaparecer!