quinta-feira, 1 de março de 2012

E porque o culto

Não cuides que te busco ainda por querer-te
Pois nem te quereria já se tu te desses,
De tanto me aplicar (certa de que o quisesses)
No construir da ideia de perder-te:

Após louco intentar com ardis demover-te
Ao ver que a amor já não era crível que cedesses
Desistindo por fim de crer que tu viesses
Oh, como trabalhei os gestos de não ver-te!


E ao fim de tanto estóico esforço de vontade,
se alguma vez me vires buscar com ansiedade
Nesse lodo em que afunda memórias teu olhar,

Não te iludam vestígios de incansável ardor
Nem atribuas causas a saudades de amor
Que é a mim, nada mais, que eu ando a procurar.

in: Textos pretextuais / Júlia Lello.

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