sábado, 25 de agosto de 2012

Filipa

A querida Filipa, tinha uma enorme alegria de viver. Adorava os filhos, o irmão, a família, festas, viajar, conviver, praia, dormir, rir e estar na palheta com as amigas. Morreu prematuramente, faz hoje 3 anos. Devia ter vivido muito mais, por si e pelos filhos.
Deixo aqui um poema dos meus poetas preferidos,  Eugénio de Andrade.

« Não sei como vieste,
mas deve de haver um caminho
para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de Setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?

Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?


Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.


Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir (...)


Deixa-te estar assim
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim. »