Que tédio de blogue... Em velocidade de cruzeiro, coze em banho maria...
Hoje não me ocorre nada, vai daí temos momento de poesia, das boas! Despeço-me já com o poema "o sono", de Álvaro de Campos. Há poemas para todos os gostos e situações. Até qualquer dia!
"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!... "
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Hoje não me ocorre nada, vai daí temos momento de poesia, das boas! Despeço-me já com o poema "o sono", de Álvaro de Campos. Há poemas para todos os gostos e situações. Até qualquer dia!
"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!... "
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
2 comentários:
Adoro pessoa e todos os seus heterónimos, não me farto de ler alguns dos seus poemas ainda que, o meu poeta favorito seja, sem sombra de dúvida Rilke... Um banho-maria com excelente leitura e optima música a acompanhar! ;)
Obrigada Me hate!
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